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Muitos cristãos imaginam que traduzir a Bíblia é um empreendimento da igreja moderna. Na maioria dos casos, crê-se que somente a partir da Reforma Protestante é que surgiram as primeiras versões bíblicas. A verdade é que desde que a igreja primitiva começou a pregar o evangelho surgiu a necessidade de colocar a Palavra de Deus na linguagem do povo que se convertia ao evangelho. Portanto, a história da tradução da Bíblia é paralela da história de Missões. Ainda hoje, a tradução da Bíblia é o primeiro ministério da igreja cristã. Sem isso, não é possível pregar, ensinar e fazer missões. No entanto, a tarefa é árdua e exige muito. Depois de trabalhar por cerca de dez anos com a Nova Versão Internacional, podemos resumir os desafios da tradução bíblica nas seguintes palavras:

1. A Questão do Texto Original

            Quase todos estão cientes de que não temos conosco os manuscritos originais da Bíblia. Há milhares de cópias guardadas em bibliotecas, museus e instituições religiosas em todo o mundo. É a partir dessas cópias é que é feita a tradução das Escrituras. Na verdade, há um trabalho de crítica textual muito bem feito sobre esses manuscritos antigos disponível na Biblia Hebraica Stuttgartensia, Antigo Testamento baseado no Texto Massorético, publicada pela Deutsche Bibelgesellschaft, e The Greek New Testament, editado por Eberhard Nestle e Kurt Aland (28a edição), publicado pela Deutsche Bibelgesellschaft e pela United Bible Societies. Quase todas as traduções baseiam-se principalmente nesses textos, muitos respeitados pela vasta maioria dos estudiosos de todo o mundo. Algumas variações entre manuscritos são sinalizadas nas traduções mais críticas e contemporânea através de notas de rodapé.

2. A Questão da Linha Teológica

            Ainda que toda tradução tenha os seus méritos, é impossível uma “neutralidade absoluta” de linha teológica. Assim, temos traduções católicas e traduções protestantes. Além da existência de livros apócrifos, vamos encontrar terminologia específica nessas traduções. Enquanto as traduções protestantes usam “arrependei-vos”, algumas traduções católicas dizem “fazei penitência”. A Bíblia de Jerusalém chega a usar a palavra “óstia” em Romanos 12.1-2. A versão Pastoral é claramente alicerçada na Teologia da Libertação. Uma simples lida nos títulos do texto de Êxodo 4-10 não deixará nenhuma dúvida. A versão Almeida Corrigida costuma ser preferida por igrejas mais conservadoras, como a Congregação Cristã do Brasil e Igreja Deus é Amor, enquanto que a Bíblia na Linguagem de Hoje é mais usada por aqueles que possuem uma linha teológica mais aberta. A NVI representa uma visão evangélica geral.

3. A Questão Semântica

            Pode parecer estranho para muita gente, mas é fato que muitas palavras do texto hebraico, aramaico e grego ainda estão sendo estudadas e definidas com precisão. Isso é especialmente verificável no caso do hebraico. Todavia, sabemos que são poucos os termos difíceis de tradução e, além disso, eles ocorrem menos freqüentemente na Bíblia. As descobertas da arqueologia (como os manuscritos do mar Morto), os estudos de línguas antigas como o acadiano e o ugarítico, e o desenvolvimento da ciência lingüística muito contribuíram para um conhecimento mais amplo e profundo dos vocábulos bíblicos. Por isso, traduções mais recentes, que têm acesso ao resultado dessas pesquisas levam grande vantagem na transmissão correta da Palavra de Deus.

4. A Questão da Sintaxe e da Interpretação do Texto

            Há muita gente que acredita que uma boa tradução da Bíblia é uma tradução bem literal. Não há dúvida de que muitos textos ficam bem traduzidos quando acompanham de perto a forma do original. No entanto, nem sempre isso acontece. Por isso, todas as traduções usam de maior ou menor liberdade para poderem comunicar o sentido do texto original. Para entender bem essa dificuldade bastar observar o texto de 1Reis 14.10, onde o hebraico diz “o que urina na parede”, normalmente traduzido por “homem” ou “do sexo masculino”. Nenhuma versão em português seguiu o hebraico literalmente. Isso significa que por amor à clareza e à língua receptora, muitas traduções reestruturam a frase em português, incluem verbos e palavras para a que a frase faça sentido, interpretam a sintaxe de acordo com as melhores gramáticas (às vezes o texto literal pode deixar uma ambigüidade inadequada). No entanto, deve ficar claro que as diferentes versões optam por um grau maior ou menor de literalidade de acordo com a proposta de tradução que possuem.

5. A Questão da Atualização Linguística

            Uma pergunta importante que deve ser feita por quem traduz a Bíblia é: Para quem ela se destina. Por isso, é muito importante reconhecer que a dinâmica da língua exige revisões nas mais diversas versões. Ninguém usa a versão de Almeida de 1681. A linguagem ali usada é incompreensível para o leitor de hoje. Algumas versões antigas ainda usam termos praticamente desconhecidos nos dias de hoje como vilipêndio, impudicícia, enxúndia, etc. Isso significa que toda boa versão bíblica precisa passar por revisões de tempo em tempo para evitar anacronismos, termos que tenham mudado de sentido, palavras que possam ter adquirido conotações chulas ou pejorativas, etc. Graças a Deus por aqueles que se esforçam para tornar a Palavra de Deus compreendida pelo povo. Ninguém mais entende termos como “chocarrice, impudicícia, enxúndia, propinquo, etc.”

6. A Questão do Leitor-alvo

            Muitas vezes ouvimos a pergunta simplista: qual é a melhor tradução da Bíblia? Antes de responder à tal pergunta é importante definirmos a quem se dirige essa versão. Há traduções cujo mérito está no seu aspecto literário. Outras representam um marco histórico. E há aquelas que procuram comunicam para um grupo específico de pessoas. A Bíblia na Linguagem de Hoje, por exemplo, preferiu comunicar o sentido do texto para todos, inclusive pessoas de pouca cultura. Ao fazer isso, aspectos literários, paralelismos e figuras do original perdem sua força na tradução. A NVI, por exemplo, é um meio termo entre as versões mais tradicionais que primam pela forma e as mais livres que optam por traduzir o texto com ênfase no leitor moderno e menos culto. O fato é que ninguém pode fazer uma boa tradução da Bíblia sem considerar essa importante questão.

Luiz Sayão

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