Até o deserto pode nos ensinar lições preciosas!
[Parte 1/3]
Todos os mandamentos que hoje eu ordeno para vocês cuidarem de observar, para
que vivam, e se multipliquem, e entrem, e possuam a terra que o Senhor, com
juramento, prometeu aos seus pais. E você vai se lembrar de todo o caminho pelo
qual o Senhor seu Deus tem lhe conduzido durante estes quarenta anos no deserto,
a fim de lhe humilhar e lhe provar, para saber o que estava no seu coração, se
guardaria ou não os mandamentos dEle. Sim, ele lhe humilhou, e lhe deixou ter
fome, e lhe sustentou com o maná, que nem você nem seus pais conheciam; para lhe
dar a entender que o ser humano não vive só de pão, mas de tudo o que sai da boca
do Senhor Deus, disso vive o ser humano. Não se envelheceram as suas vestes sobre
você nem se inchou o seu pé, nestes quarenta anos. [Deuteronômio 8.1-4]
Um ambiente tão agressivo, inóspito, insalubre e paradoxal, onde temos
calor insuportável de dia e, de noite, frio enorme, pode nos ensinar
alguma coisa boa?
Assim, é o clima do deserto. Até metaforicamente quando mencionamos
o deserto o sentido tem sido de sofrimento, solidão, de demora, de sede,
situação insuportável.
Pois é, muitas vezes vivemos situações na vida que se parecem com o
deserto e quem, sendo pessoa normal em seu juízo, deseja o sofrimento?
Nesse texto bíblico vemos o povo de Israel passando por 40 anos no
deserto, situação muito dolorosa. Por que 40 anos, num trajeto que
poderia ter durado poucos meses? Por que Deus quis isso? Seria Ele
sádico? Por que ou para que?
Em geral o ensino que temos na Bíblia, é que Deus se vale do deserto
como “recurso didático” para aperfeiçoamento de nossa vida. Abraão,
Moisés, Jesus, Paulo, foram personagens que passaram metaforicamente
pelo deserto.
O texto base traz três motivos didáticos pelos quais o povo passou pelo
deserto: E você lembrará de todo o caminho pelo qual o Senhor seu Deus
tem lhe conduzido du-
rante estes quarenta
anos no deserto, a fim de
lhe humilhar e lhe
provar, para saber o que
estava no seu coração,
se guardaria ou não os
seus mandamentos.
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A fim de te humilhar
A palavra “humilhar” pode ter significado pejorativo, mas aqui indica
que nos tornamos gigantes à medida que reconhecemos nossas limi-
tações, pois a arrogância, o senso de poder, egoísmo e tudo o que disso
procede precisa ser limpo de nosso caráter.
Sofrimentos, perdas, e situações que demonstrem a nossa finitude e
limitação, atuam em nosso interior, em nossa estrutura mental e emo-
cional despertando nossa atenção para buscar a introspecção,
autoconhecimento e ressignificação da autoimagem.
•
A fim de te provar
Alguém perguntaria, para que Deus deseja nos provar se Ele conhece
tudo (Onisciência / Presciência, na Teologia Sistemática)? Mas no caso da
Teologia Bíblica, não é provar para Deus, Ele já sabe quem somos, mas
para mostrar quem somos para nós mesmos, mostrar qual o limite de
nossa fé.
Temos tudo diante de nós e podemos fazer de tudo [1 Coríntios 6.12;
10.23], pois a liberdade humana é um atributo que Deus nos tem dado
desde a Criação. Mas esta liberdade, pela nossa própria natureza, é
limitada à nossa finitude, também ao fato de que não vivemos sozinhos
na vida e no mundo, e, mais ainda, pela preservação dos recursos natu-
rais da “casa” que Deus nos deu para morarmos. Na verdade, o que nem
sempre lembramos são as consequências de nossas decisões. Quantas
vezes queremos fazer o que desejamos, sem pensar nas consequências
contra o próximo, contra a família? Aí nosso egoísmo e paixões próprias
vencem, mas destroem relacionamentos e até a nós mesmos por dentro e
por fora.
Quantas vezes não investimos paciência em enfretar situações limites
ficando em uma zona de conforto, em vez de transformar estas situações
em aprendizagem e crescimento?
Neste ponto, creio que Deus deseja nos mostrar como utilizamos nossa
liberdade. Em geral tratamos o tema com o verbo DEVER, mas fomos
criados para a alegria, então em vez de dever temos diante de nós a
satisfação e o prazer em fazer aquilo que é certo, que traz benefícos para
nós e para os outros, e também para a natureza criada. Até que ponto de
fato sei utilizar minha liberdade? Esta é a questão em jogo aqui e Deus
nos permite estar envolvidos em situações para nos provar isso. Vamos
lembrar que povo de Israel a todo momento mostrava sua instabilidade e
infidelidade a este propósito divino.
PARTE 2
Lourenço Stelio Rega
É pastor desde 1977. Teólogo, eticista e escritor.
Bacharel e Mestre em Teologia, Licenciado em Filosofia, Pós-
graduado em Análise de Sistemas, Mestre em Educação, Doutor
em Ciências da Religião. Tem formação na área de liderança.
Diretor da Teológica. Professor de Ética/Bioética, Administração
Eclesiástica, Filosofia da Religião, Liderança e Ferramentas para
Gestão Estratégica
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“Quantas vezes não investimos
paciência em enfretar situações
limites ficando em uma zona de
conforto, em vez de transformar
estas situações em aprendizagem e
crescimento?”